Três Mulheres: Uma Esperança é o mais novo filme da diretora Alemã Saskia Diesing, o filme que chega aos cinemas no dia 8 de junho de 2023, retrata a realidade de três mulheres de nacionalidades e realidades muito diferentes, que acabam se encontrando em meio ao final da 2ª Guerra Mundial.
A trama é retratada de forma sensível, dramática e com um ritmo lento, que nos faz adentrar a realidade retratada com curtos respiros de emoções como tristeza, pânico, desespero e sofrimento, raramente intercalados por esperança, amor e determinação.
Essa determinação porém, é o grande destaque das protagonistas, que apesar de serem muito diferentes, se veem em meio a guerra, dividindo as mesmas dificuldades e a mesma casa, Simone, uma holandesa que chega a um local completamente novo com seu marido machucado e doente; Winnie, uma jovem alemã inexperiente que se vê sozinha no mundo após a morte de sua mãe e deixada em sua casa repleta de elementos nazistas, em meio a uma sociedade que não mais os tolera; e Vera, uma sargento Russa atiradora, que vê sua força, determinação e racionalismo colocados a força a todos os momentos em sua posição de liderança frente aos demais.
Em meio a tudo isso porém, as três, apesar de suas diferenças e intrigas pessoais, se veem em uma relação de amizade criada principalmente pela força das três e pelo feminismo intrínseco ao longa, que dirigido por uma mulher e com 3 mulheres como protagonistas, traz a tona situações das mais variadas em que as três tem que mostrar sua força, se impor e tomar a rédea de suas vidas em uma sociedade que não facilita esse feito, seja contra a guerra, contra homens sem escrúpulos, contra doenças ou contra o que quer que surja em seu caminho.
Apesar de uma força e determinação muito semelhante em todas as personagens, elas por sua vez, possuem personalidades completamente distintas, assim como sua origem e realidade, isso é transmitido ao público desde o principio com pequenas atitudes, nuances sutis em diálogos e principalmente pela postura, modo de falar e roupas incorporados pelas três atrizes, que fizeram um trabalho de performance de tirar o folego.
A ambientação dramática do filme é evidenciada ainda pela direção de arte, direção de fotografia, iluminação e designer de som. Frente a direção de arte podemos destacas tanto o figurino como os cenários e ambientação da época feitos com precisão, mas o que mais chama a atenção aqui, com certeza são os figurinos de época das três protagonistas, tão distintos entre si ilustrando sua posição e postura frente a realidade; bem como a cenografia e detalhismo da casa que habitam juntas, a antiga casa de Willie, a mais inocente, revoltada e jovem das três, onde aos poucos entendemos sua realidade alemã, ao nos depararmos com símbolos nazistas em todos os ambientes e até mesmo nos pequenos detalhes dos utensílios de uso doméstico, tornando-a ali, a vilã, que tenta permanecer fiel a suas origens, mesmo em um ambiente ansioso pela derrota alemã na guerra.
Quanto a direção de fotografia, é evidente desde a primeira cena do filme, seu ritmo, com planos de longa duração, em sua maioria mais fechados nas personagens, com planos abertos inseridos estrategicamente apenas para situar o público no ambiente, e com sugestões de uma câmera na mão, onde apesar da lentidão das ações e do ritmo do filme, apesar do ritmo lento e monótono, sem grandes clímax, guerras ou correrias em meio a trama, sentimos a tensão, tanto pelas expressões das personagens vistas de perto em closes e planos médios, como pelo ligeiro tremo presente na câmera nos momentos mais drásticos, quase imperceptivel.
Já a iluminação, traz o aspecto clássico dos filmes sobre a 2ª guerra mundial, se tratando de uma ambientação escurecida, com muitos tons de cinza e marrom, ilustrando o terror e a nebulosidade do momento, apesar de tudo isso, feito a partir de uma iluminação difusa, sem grandes marcações de sombras, o que não deixa espaço para um crescimento de suspense, apenas uma tensão interna oriunda do drama pessoal de cada personagem.
Para o designer de som, podemos ressaltar 3 aspectos distintos, começando aqui com o esforço evidente de evidenciar os folleys, de forma que um simples caminhar ou passos dos personagens são ouvidos ao longe, ilustrando o silêncio repleto de tensão em um ambiente tão inóspito, bem como tornando a tensão das personagens mais evidentes, colocando o público no mesmo local que elas, prestando atenção a cada detalhe, mudança ou surpresa que possa mudar sua realidade.
Por outro lado, ao falarmos de som, também devemos falar das trilhas sonoras, onde em um primeiro momento, bem como em grande parte do filme, nos deparamos com trilhas tensas, lentas, que mesmo sem compreender a trama por completo ainda, somos assolados pelo sentimento de desespero e drama da trama, essas trilhas se repetem em grande parte do filme, de forma a serem acrescentadas com tanta naturalidade, que é fácil esquecer de sua presença e apenas embarcar em todos os sentimentos e imersões presentes no filme.
Por outro lado porém, em raras exceções essas trilhas nos são apresentadas como uma oposição a realidade, com trilhas animadas que mostram o que ja viveram, o que poderiam estar vivendo e ainda querem viver, mas estão ali, em busca de liberdade, vingança e reconstrução, trilhas que são adicionadas a diegese da cena, ilustrando ainda mais o caráter artístico da trama e o contraste evidente.
Três mulheres: Uma Esperança se mostra assim um filme sobre a força feminina, sobre as possibilidades e liberdades, um filme triste, mas com uma mensagem de esperança e com uma qualidade cinematográfica de tirar o fôlego. Para os amantes de histórias femininas e tramas de dramáticas de época, essa é uma história que vale a pena conferir.
Comments