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Coletiva de Imprensa - Da Porta Pra Fora - Festival de Cinema de Gramado

  • Carol Oliveira
  • 25 de ago. de 2023
  • 5 min de leitura


A coletiva de imprensa do longa metragem documental Da Porta pra Fora, ocorreu na manhã do dia 16 de agosto durante a realização do Festival de cinema de Gramado, sendo um dos 5 documentários que concorriam a premiação da categoria no festival.

O debate contou com a presença do diretor Thiago Foresti, seu editor e os três protagonistas do documentário, Keliane, Sorriso e Marcos que estavam exuberantes pela possibilidade de estar em gramado para a exibição do filme, algo que só foi possível a partir da ajuda e arrecadação de dinheiro para custeio da viagem tão importante para a trajetória da equipe, protagonistas e produção.

De acordo com o diretor, Da Porta Pra Fora foi o longa mais dificil que já fez, justamente pelas dificuldades financeiras e de financiamento e pelo processo de idealização do documentário ter acontecido no momento, com o intuito de ser construído a partir do registro real do dia a dia desses motoboys, sem um processo de pré-produção.

"Foi por muita vontade, ao longo do processo foi ficando mais difícil. No começo, pensávamos que era importante registrar logo porque estávamos vivendo um momento histórico, e tínhamos a percepção ingênua de que a pandemia duraria seis meses, um ano. A gente estava nessa expectativa: de registrar o que podíamos na hora e, depois, correr atrás...Para correr atrás de uma fonte de financiamento foi difícil também. A política estava desestruturada e não tinham editais rolando. Conseguimos apoio de um deputado de Brasília, do PSOL, que se sensibilizou com a causa e bancou uma emenda de 100 mil reais para finalizarmos o filme – que, no total, custou 180 mil. A gente queria muito finalizar esse filme. E para além das dificuldades da gravação em si – ir pra rua, filmar com as pessoas na pandemia – tivemos também essa parte da produção executiva, que foi um caos. Era um período de demolição de políticas públicas e nossa produtora ficou numa situação bem difícil.... Então foi um filme feito com muita coragem e entrega, tanto da equipe de produção, quanto dos motoboys que toparam participar. A obra retrata momentos de tensão política e as dificuldades enfrentadas no dia a dia da profissão." Fioresti


Pra idealização do projeto, ele complementou que na primeira semana de pandemia, saiu as ruas com uma câmera para entrevistar motoboys, pedindo para participar dos grupos de Whatsapp e se poderiam enviar imagens das ruas durante o lockdown, aos poucos encontraram os três protagonistas, Marcos, Sorriso e Keliane. De acordo com ele, Marcos foi o mais difícil de encontrar, pois queriam alguém que se afirmasse Bolsonarista sem medo, e Marcos foi o único que de fato fez isso, os demais mudavam de postura quando confrontados por uma câmera, e eles queriam a verdade, em momento nenhum tentando mudar suas ideias ou entrando em debates, tudo tendo sido feito com muito respeito e buscando um incentivo financeiro a eles também em troca dos vídeos que nos mandavam.

Por causa das dificuldades logísticas, orçamentárias e pela extensão do tempo da pandemia, além do fato de buscar facilitar para os motoboys o registro de seu dia a dia, o longa foi feito com diferentes tipos de câmeras – como GoPro, drones, câmeras 360, celulares, GHX, Fuji e 5D.

"Fomos usando as coisas que tínhamos na mão. Não foi muito pensado. Estávamos preocupados em captar os momentos. À medida em que o filme foi ficando pronto, começamos a trabalhar melhor na fotografia, saindo para fazer imagens, por exemplo. Captamos o que precisávamos e depois fomos lapidando". Foresti.


Thiago ainda relatou que suas dificuldades na distribuição do longa, afirmando que o filme está aberto a negociações

"É bem difícil distribuir um filme, por isso é tão importante estarmos nos festivais, que são uma janela incrível. A exibição pode mudar a vida dos envolvidos. Eu queria passar o filme no maior número de lugares o possível, mas precisamos de apoio. Sabemos fazer, mas distribuir é outra coisa...", Thiago Foresti.


Abordando com mais profundidade a temática do documentário e sua importância social, os trabalhadores relembravam situações que viveram ao longo da pandemia e as dificuldades que tiveram para conseguir se sustentar e serem corajosos para sair as ruas quando mais ninguém saia.

"O trabalho dos motoboys passou a ser um serviço essencial naquela época e eles passaram a ser considerados heróis, mas esse reconhecimento ficou apenas nas palavras", Thiago Foresti.


Keliane que sofreu acidentes de moto ao longo da pandemia, relata que teve diversas dificuldades, físicas, emocionais e financeiras por causa do ocorrido e que o aplicativo para onde trabalhava não se importava, complementando ainda que o valor que ganhavam para fazer cada entrega não compensava de forma alguma, era desanimador.

"Eles (aplicativo) não estavam preocupados comigo. Só me pediram para dar um jeito de entregar o pacote ao destino. Tive que pedir para um colega fazer isso por mim e buscar minha moto. Como tive que passar esse tempo parada, atrasei todas as minhas contas, estava em processo de separação da minha ex-esposa, tive que pedir ajuda para minha mãe e acabei tendo que vender a moto. O problema é que, quando você passa muitos dias sem fazer entrega, o aplicativo manda bem menos entregas para fazer, o que diminui muito o dinheiro que ganho", Keliane.


De acordo com ela, para conseguir completar sua renda, investiu no seu verdadeiro sonho, de ser cantora, e começou a cantar em bares, algo que hoje já é algo que faz com mais frequência e diz com orgulho, que esta exercendo sua vocação, tendo chegado a cantar para todo o auditório em meio ao seu breve discurso de apresentação do filme na noite anterior a coletiva, no Palácio dos Festivais. O sonho, humanidade e importância da realização de Keliane é ainda exemplificada ao longo do documentário, onde podemos vê-la cantando em bares e também é como o documentário se encerra.

Relatando sua experiência em participar do documentário, Alessandro, mas conhecido como Sorriso, que até hoje é motoboy e essa é sua principal fonte de renda, relatou:

"Sou um cara carismático. Participar do documentário foi muito bom. Conseguimos mostrar a realidade nua e crua do que passamos nas ruas, e também o medo que assombrava toda a população. Víamos a realidade do coronavírus nos outros países e o medo já assombrava a todos aqui. Foi uma experiência em que eu vivi uma mistura de sentimentos muito fortes" Sorriso.


Da Porta Pra fora abusa da humanidade e solidariedade humana, de forma que ver esses três personagens emocionados no debate, sem medo de contarem suas histórias e a determinação da produção em realizar um filme mesmo em meio a tantas dificuldades é um ato de coragem inspirador.

"Essa estreia é um momento muito importante para gente. É muito significativo lançarmos essa obra no maior festival de cinema do País, por isso acho fundamental os motoboys que protagonizam essa história estarem presentes"


Afirmou Thiago que revelou que criou campanhas como por exemplo no site da Vakinha, para proporcionar a realização desses motoboys de verem seu trabalho e sua dedicação valorizadas em Gramado.





 
 
 

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