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O Barulho da Noite - Um filme polêmico de Tocantins

  • Carol Oliveira
  • 23 de ago. de 2023
  • 4 min de leitura

51º Festival de Cinema de Gramado

O Longa metragem de Eva Pereira, uma diretora mulher, negra, estreante na direção de longas de ficção, chega ao festival de cinema de gramado de 2023 para gerar polêmica, reflexão e nos apresentar uma temática e uma ambientação pouco retratada no cinema brasileiro.

O filme que ainda não tem data de estreia oficial nos cinemas, mas está prevista para 2024, e chegou ao festival trazendo uma abordagem que nos induz a imaginar que o filme possa ser de terror, e realmente, alguns de seus aspectos da fotografia, brincam com a linguagem desse gênero, ao apostar em enquadramentos que não revelam toda uma realidade, uma iluminação misteriosa e o abuso dos efeitos sonoros como personagens principais da trama.

Porém, O Barulho da Noite vai muito além do que um filme de gênero, trazendo a tona personagens complexos, com um elenco infantil e uma simbologia que deixa o espectador ao mesmo tempo irritado e extremamente incomodado com as situações apresentadas, dificultando até mesmo a identificação e a compreensão racional das atitudes tomadas pelos protagonistas, que parecem muito longe do aceitável, mas que visam apesar disso, nos apresentar a verdade e a realidade, ao contrário de muitos filmes apenas de ficção, aqui, a ficção atinge outros parâmetros de neurose social.

Para compor sua narrativa e tratar de temas delicados que nos são revelados aos poucos, somos confrontados com temas como relações familiares, conflitos de poder, religião, inocência, abuso infantil, e as realidades sociais, éticas e financeiras de comunidades pobres isoladas dos grandes centros urbanos.

Apesar de o longa buscar nos apresentar uma realidade não totalmente ficcional, servindo como exemplificação de uma vida, o mesmo oscila em seu roteiro e com a mente do espectador ao nos apresentar uma protagonista infantil, de 8 anos, uma personagem inocente, imaginativa e que evoca no espectador a real dúvida, será isso real, será isso realmente possível de acontecer? Dada a gravidade e complexidade da situação apresentada.

"Sempre tivemos essa ideia do filme não ser explícito. O tempo todo vamos pela perspectiva da menina, que é a forca narrativa do filme. A sabedoria da inocência dela é o que traz as suas reações".

Pontuou André Sampaio, montador do longa durante a coletiva de imprensa do filme.

O mesmo se dá principalmente com relação a motivação dos personagens e construção de mulheres que ao mesmo tempo que parecem fortes, são sujeitadas a situações que vendo de fora, poderiam sair, mas poderiam mesmo?

O incomodo é grande, a direção de arte faz seu trabalho ao apresentar uma realidade de pobreza desconhecida para a maior parte do país, a direção de fotografia claustrofóbica nos tira o fôlego, feita em grande parte a luz de velas, e o designer de som, que nos mostra sem mostrar, gerando incomodo, ao mesmo tempo que as personagens ora tem nossa afeição, ora tem nosso mais profundo desespero e ódio por não tomarem ações.

"Apesar de se tratar de um drama, o filme não envereda pelos excessos melodramáticos. Mas sim pelos sentimentos represados no olhar, pela força do que fica preso na garganta e salta aos olhos. A luz de lamparina e os sons noturnos marcam todas as nuances, já que os pontos de viradas se concentram à noite", disse a diretora Eva Pereira em meio ao debate sobre o longa na manhã seguinte a exibição no festival.


Para mim, admito uma dificuldade em abordar este filme com mais profundidade sem contar mais sobre sua trama, não é uma trama fácil de assistir, mas pode-se dizer que é uma trama polêmica, necessária e que vai permanecer a sua mente por muito tempo, seja como um filme bom, ou como um filme que te cause indignação.

A grande problemática aqui, se dá na montagem e previsibilidade, que gera uma grande quebra de expectativa e corta o aspecto de suspense que o longa poderia abordar em conjunção com sua fotografia mais sombria e quase típica dos gêneros de terror e suspense, ao apostar em algumas cenas e olhares típicos de realidade, que tornam sua sequencia impossível de ser diferente, como por exemplo entre diálogos entre os dois pais, e até uma pequena troca de olhares com uma câmera quase subjetiva.

A realidade apresentada pela diretora do longa em sua apresentação ao palco antes do longa ser exibido é clara, é mais fácil dizer que o mesmo é um filme feminino, mas com muita energia masculina, que invade a dor das mulheres e abusa do julgamento de suas forças, abusa de seu choro e de sua estagnação, sendo a história de um Brasil profundo, cheio de dores e amores, e que para ser feito, precisou de um intenso trabalho de pesquisa e de um mais intenso ainda apoio social feminino e masculino, desde a sua direção feminina e negra, até o uso de poucos equipamentos e até mesmo fotos tiradas com o celular para compor sua ambientação.

É importante ressaltar aqui as nuances da narrativa, as inversões de papeis e a grande responsabilidade imposta entre proteger e ser protegido mesmo em crianças muito novas, ilustrando com força o papel das famílias e de suas relações de quem domina e quem é dominado.

Se você ficou curioso e gostaria de saber mais sobre o filme, te convido a ler a seguir, a matéria aqui neste mesmo blog sobre a coletiva de imprensa do filme com equipe e elenco, que ocorreu no dia seguinte a exibição do filme, no Festival de Cinema de Gramado de 2023, onde infelizmente o filme acabou por não levar nenhum prêmio, apesar de ser o único filme do estado e o único filme com direção feminina na competição.


 
 
 

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