Morte a Pinochet
- Carol Oliveira
- 14 de fev. de 2023
- 4 min de leitura
Cabine por A2 Filmes
Distribuição: A2 Filmes
Estreia nos cinemas: 16/02/2023

O longa Morte a Pinochet é um longa Chileno, baseado em uma história real de um ataque do partido comunista chileno em busca de acabar com a ditadura de Pinochet, de forma que desde a primeira cena, já notamos ser um longa complexo politicamente e que defende a luta pelos ideais de uma população, pela sua nação.
Além disso, algo notável na trama, é a união de protagonistas tão distintos e que interpretam muito bem seus papéis, misturando personagens em profissões muito diferentes, assim como suas classes sociais, unidos por um objetivo em comum, o amor pela sua pátria, pelo seu país e pelos seus entes queridos.

Um aspecto marcante do longa é sua coloração amarelada e por vezes esverdeada das cenas, já trazendo ao Chile um olhar diferenciado, pautado no conhecimento universal do uso desses filtros pelos filmes Hollywoodianos, usado principalmente para filmes de época e para filmes mexicanos, já trazendo um olhar inconsciente do público para esse aspecto visual tradicional, muito diferente do usual, trazendo aqui não a inferioridade ou antiguidade de uma cultura e sim sua força e a luta por seus ideais, além de evidenciar o retrato do passado de um povo.
Ainda no quesito cinematográfico, o longa abusa também dos planos artísticos e movimentos de câmera sutis, e extremamente imersivos, trazendo mais arte as cenas, ao mesmo tempo que evidenciam a dramaticidade e qualidade da trama, que claramente foi meticulosamente planejada e executada.

Quando a produção do filme, é evidente que não foram poupados esforços, com uma variação ampla de personagens e figurantes, além de várias locações e cenas diferenciadas que se alteram rapidamente de ambientação, trazendo mais riqueza e significados a trama que passeia por vários ambientes do Chile.
A direção de arte também não fica para traz, com minimalismo nas cenografias e nas escolhas de figurino que não deixam dúvidas sobre a personalidade e passado de cada um dos personagens, além dos mínimos detalhes como objetos e props de cena que remetem a 1986, ano em que o filme se passa, abusando das televisões de tubo, projetores antigos e fotografias com coloração amarelada e com necessidade de revelação, tudo que evidencia ainda mais a época que esta sendo retratada e facilita a viagem no tempo do espectador para o momento retratado.

Um fator que merece destaque na trama, são com certeza as personagens marcantes, fortes e de muito destaque, femininas, que indo contra todos os padrões esperados, lutam por seus ideais, destaque aqui para a protagonista Tamara, uma psicóloga que deixou uma família de classe alta para viver na clandestinidade e se tornou a única mulher com posto de comandante na Frente Patriótica.
Quanto ao roteiro e montagem, trazendo aqui aspectos da composição da narrativa e de seu ritmo. Morte a Pinochet traz um ritmo lento, ao mesmo tempo que retrata a agitação de um grupo de pessoas em realizar um ato político perigoso, passando muitas vezes por longos diálogos de planejamento e que nos facilitam a compreensão de cada um dos personagens e da minuciosidade e cuidado de todos eles para que consigam executar seu plano com perfeição, matar Pinochet e assim acabar com a ditadura chilena.

Desta forma, o tempo e o ritmo do filme é amplamente ilustrado e evidenciado pelos diálogos profundos, em narrativas em voz off e diálogos, cortes de cena que passam por várias ações e vão e voltam no tempo repetidamente, ilustrando o suspense e ao mesmo tempo o cuidado com cada momento, tudo isso amplificado pelas escolhas das trilhas sonoras e efeitos sonoros, que rapidamente nos transportam entre cenas de tensão e as cenas mais dramáticas que servem quase como respiro para a trama, mas que ao mesmo tempo amplificam a emoção e o risco que cada um dos integrantes do partido estão correndo pessoalmente e individualmente pelo bem de todo um povo e de uma nação.
Aqui, o individual não se sobressai ao coletivo, trazendo ainda muitas reflexões sobre coragem, perseverança, confiança, respeito, responsabilidade e crença, onde muitas vezes nos deparamos com cenas entre os protagonistas e seus familiares que se assemelham muito a um adeus que nunca é dito, e remete no psicológico do público aos filmes de guerra e toda sua representatividade histórica, e principalmente, como essas pessoas realmente acreditam estarem realizando um verdadeiro ato de amor, apostando suas vidas pelo bem de suas famílias, seu povo e seu país.

O longa abusa ainda das cenas de ação, que se concentram em momentos específicos do filme, tanto em sua abertura para ambientação, como em seu clímax, ilustrando mais uma vez a capacidade chilena de fazer amplos filmes com cenas de violência, luta, e carros, permeados por uma trama dramática e política que fácil entendimento, mas que demanda constante atenção as nuances de diálogo e planejamentos minuciosos.
O filme inegavelmente é uma produção incrível, com uma história intensa, baseada em fatos reais e política, levando o público a torcer por uma nação que muitos desconhecem de forma profunda e imersiva. Fica aqui então um representante inegável do cinema Chileno, para os amantes de filmes de outras nações, nação que não esconde sua qualidade cinematográfica, já tendo até mesmo ganhado o Oscar de melhor Filme estrangeiro em 2018 com o longa "Uma Mulher Fantástica".

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