Mais Pesado é o Céu - Petrus Cariry
- Carol Oliveira
- 23 de ago. de 2023
- 4 min de leitura
51º Festival de Cinema de Gramado

Qual será o fardo mais difícil de carregar? Qual será o momento de desistir da luta? Mais Pesado é o Céu.
O longa metragem Brasileiro, de Petrus Cariry, chamou atenção no Festival de cinema de gramado, já começando pelo seu aspecto de grande produção e pela presença de atores brasileiros renomados, como Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios.
Mais Pesado é o Céu, foi filmado nos municípios de Quixadá e Nova Jaguaribara, onde na história, os protagonistas são ex moradores de Jaguaribara, cidade que sumiu do mapa após ser submersa pelas águas do Açude Castanhão e passam pelas dificuldades de serem andarilhos pobres em meio a seca do Ceará.
A trama se complica ainda mais com o acréscimo de uma criança, um bebe indefeso, que serve justamente como liga entre os dois personagens extremamente diferentes, mas que unem forças pelo bem da vida e inocência juvenil, passando a viverem juntos em sua luta pela sobrevivência e em contato com o lado melhor e pior da personalidade dos dois protagonistas Antônio e Teresa.
Apesar da dramaticidade da trama, o filme lida com temas muito mais complexos, de forma a trazer cenas com características típicas do terror, além de personagens semi-construídos, a partir de cenas e suposições do espectador, e de metalinguagens acrescentadas a narrativa a partir da decupagem fotográfica e direcionamento dos atores feitas pelo diretor Petrus Cariry, que tem o costume em suas produções de dirigir a fotografia quando faz a direção geral do filme.
Abordemos inicialmente a construção dos personagens, em uma trama em que os enquadramentos, movimentações e ações dizem muito mais e com muito mais profundidade do que os breves diálogos. Mais pesado é o céu se mostra um filme silencioso, ao mesmo tempo que nos grita para que encaremos essa realidade com desespero e compaixão, de forma que a construção dos personagens é feita de tal forma a nos apresentar uma mãe, indo contra todos os seus instintos maternos e apostando em seus instintos de sobrevivência para garantir um dia de alimentação, em oposição ao andarilho Antônio, um homem simples, singelo e carismático, que se apoia nessa mãe em busca de consolo, companhia e pela sua fascinação por um menino que a pouco nem sabia que existia.
É justamente essa distinção entre os personagens que é evidenciada tanto pela atriz Silvia Albuquerque em sua personagem que serve como ancora para esse distinto casal e como liga para a importância de sua união, indo em oposição completa a fotografia artística que permeia a trama, onde é possível notar em diversas cenas, a divisão de personalidade, interesses e perspectiva dos personagens, sejam apenas quando estão divididos por paredes e linhas compostas pelos cenários do filme, ou quando brincam com a noção de proximidade e profundidade, entre a distancia entre um personagem e outro, tanto entre si, quanto com relação a tela do cinema. Esta noção se aprofunda ainda mais na própria cena que dá origem ao cartaz do filme retratado acima, onde enquanto um personagem caminha a esquerda, o outro se mantem estático a direita, em um jogo de movimentações com afastamento e aproximação que se assemelha a uma dança metafórica visível apenas aos olhos mais atentos.
Sobre essas composições fotográficaso próprio diretor Petrus Cariry afirmou em coletiva de imprensa:
"Eu sempre falo que não vou fotografar dessa vez, mas acabo fazendo. Acho que minha forma de dirigir passa muito pela fotografia e pela pintura. Não consigo dirigir sem estar fotografando"
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