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Garota Inflamável, uma análise da imobilidade necessária para a revolução

  • Carol Oliveira
  • 8 de jul. de 2022
  • 4 min de leitura

Garota Inflamável - Filme Italiano e Alemão dirigido por Elisa Mishto.
Estreia no Brasil: 14/07/2022
Via: Assistido a partir da parceria com a @sinny.acessoria.




Analisado pelo grande público, Garota Inflamável pode ser considerado que muitos chamam de um filme cult! Uma história densa, com muito trama e tensão, Elisa Mishto consegue nos transportar para uma realidade que é pouco vista no cinema, tratando de diversos assuntos em um mesmo filme mas com um tema em foco, a resistência, seja esta frente a situações que nos incomodam, ou frente a pessoas que buscamos evitar, ou até mesmo como forma de luta.

Garota Inflamável conta a história de Julie, uma jovem diferenciada, uma protagonista que consegue não cativar ao público desde seu primeiro plano, muito pelo contrário, consegue questioná-lo profundamente. Terá ela realmente uma doença mental? Qual o intuito de seus atos de resistência? Até onde ela será capaz de ir?

O filme já nos transporta desde o início para a sensação de que algo está errado, que aquela visão não é a correta ou o que muitos considerariam normal de mundo, nos colocando frente uma protagonista sem carisma, que é manipuladora e que tem atitudes extremamente esquisitas, como usar uma luva de borracha amarela a todo o tempo, ou tacar fogo nas coisas pois supostamente elas pediram por isso a ela, tendo ainda uma ambição de libertação financeira, uma verdadeira luta pelo sistema, uma verdadeira Garota Inflamável, que modifica e consome a todos por onde passa.



Julie porém se depara em sua trajetória com uma enfermeira que se responsabiliza por ela, uma mulher que claramente não haveria melhor personagem para se deparar com Julie, Agnes, uma enfermeira infeliz com sua vida, repleta de medos e incertezas e problemas com a família e no trabalho, e não seria exagero dizer que apesar de Julie auxiliar no desenvolvimento da personagem, em momento algum torna sua vida mais simples ou melhor, muito pelo contrário, evidenciando ainda uma personagem que não cativa e manipula aos outros para seus fins, faz isso com Agnes, uma personagem manipulável e fraca, que precisa de um grande empurrão e de uma verdadeira revolução em sua vida para ser capaz de avançar para a felicidade.




Dito isso há dois fatores que mais se destacam no filme, o primeiro é a paleta de cores do filme e de cada uma das personagens, paletas evidentes e que saltam aos olhos do espectador, mas que se encontram em diversos momentos, indicando um trabalho que beira a perfeição realizado pela direção de arte do longa.

A paleta de Julie no que compõe seu figurino e seus poucos pros de cena, é basicamente branca e preta, ela junto de suas metáforas sobre imobilização das formigas, busca se esconder do mundo, se apagar com cores neutras, mas ao mesmo tempo, não tira nunca de suas mãos as luvas de borracha amarelas, que chamam atenção suficiente para que ela seja considerada louca, se suas atitudes e palavras já não fossem suficientes para isso. O preto ainda é uma cor neutra mas ao mesmo tempo que induz ao terror, podendo ser analisada dessa forma, o caos que ela acaba por causar na vida de todos por quem ela passa, sem motivos aparentes, motivos que existem apenas para ela e que por isso são plausíveis, não importa a regra.




Já no caso de Agnes, sua paleta é mais vibrante, com tons de vermelho em destaque, ilustrando que ela quer ser notada, quer ser compreendida, e cai nas mãos da primeira pessoa que a enxerga de verdade, Julia. O vermelho ainda ilustra sua personalidade forte, sua luta, mesmo que em grande parte inútil pois ela tende a ser sabotada por si mesma ou por Julie. Sendo acrescentado ao longo das cenas, mais cores primárias e vibrantes, como o azul e o mesmo amarelo de Julie.




Apesar de duas personagens distintas e de um clima caótico e dramático em torno da trama que se passa em grande parte do filme em uma clinica psiquiátrica, o filme mantém sua clareza e unidade dramática com planos simples e em grande parte estáticos, unidos a uma iluminação sutil e com pouco contraste, e que geram ainda a sensação de desordem e não pertencimento ao notarmos as duas personagens em cores vibrantes, interagindo em ambientes neutros e com uma paleta de cores cenográfica em tons de cinza e branco.




O longa brinca ainda com isso frente a ilusão do que será realidade, sonho ou loucura, ao abordar a perspectiva de Julie claramente e levando Agnes a ter atitudes e ilusões que nunca teria sozinha, como por exemplo o fato de uma enfermeira se deixar levar pela paciente tanto no psicológico como no sentido sexual, trazendo mais uma representação ao grupo para o filme, cena que por fim se torna indispensável conforme as coisas vão se esclarecendo ao longo da trama.

Um último aspecto que acho importante ressaltar, é a presença masculina no filme, sendo um filme com protagonistas essencialmente femininas. Os homens do filme pouco aparecem, mas quando aparecem em grande parte das vezes são para concertar ou gerar mais problemas para Julie e Agnes.

Por outro lado também, eles se mostram como os controladores das situações, de forma que estão sempre em posições de controle, como chefes, médicos. Tendo como exceção a isso, apenas um paciente homem que entra em evidencia ao longo do filme e que por muito tempo nos perguntamos se seria o único homem internado e até mesmo porque ele recebe tanta importância na trama, fator que só é explicado nos últimos 5 minutos de filme, dado o fato de que ele não fala uma só palavra todo o tempo.




Esse contraste entre masculino e feminino fica em evidencia ao longo da trama, sua importância seja levando as mulheres a realizarem algum ato, ou até mesmo auxiliando-as mas fazendo a história progredir e tendo em todos os casos as funções dramáticas de basicamente nos apresentar mais sobre as personagens, sua história pregressa e personalidade, fatos que não são muito abordados para os homens.

Se você gosta de filmes que te trazem desconforto e reflexão, com uma mistura de drama e ficção, Garota Inflamável pode ser o filme certo pra você. O filme com distribuição da Pandora Filmes chega hoje, dia 14/07/2022 nos principais cinemas do país.

 
 
 

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