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A Meia Irmã Feia - Uma releitura sombria de Cinderela

  • Carol Oliveira
  • 22 de out.
  • 6 min de leitura

Cabine: Mares Filmes

Distribuição: Mares Filmes e Alpha Filmes

Estreia nos cinemas: 23 de Outubro de 2025


Cartaz oficial do filme
Cartaz oficial do filme

Voltar a escrever críticas após tanto tempo parada pode parecer um desafio, mas tudo fica mais fácil quando é feito com o incentivo de um convite a uma cabine de imprensa, e ter um amante de terror como companhia.

Realizando a vontade do meu marido amante de terror, fui a essa cabine que dava direito a levar um acompanhante, mas diferente de uma sessão normal de cinema, uma cabine é repleta de jornalistas treinados para analisarem o filme com olhar crítico. O que ele também estranhou, pois em diversas vezes teve que se segurar para não rir ou gritar com o que acontecia na trama, já que todos na sessão também não estavam “emergidos” com a história.

O convite feito pela Mares filmes e da Alpha filmes, (ambas distribuidoras oficiais do longa) foi incrível e super organizado, uma das cabines mais lotadas com jornalistas e críticos de cinema que já frequentei, e que com contou até com direito a cinco sorteios de um livro da Darkside Books (em parceira com a distribuidora): Os Melhores Contos de Fadas Sombrios. Além da entrega de um pôster oficial do filme para todos os atendidos, tudo isso para dizer que essa foi a uma das melhores cabine que já presenciei.

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Mas não se engane, não vou elogiar o filme somente por causa da experiência da cabine ao assistir, mas sim por ser um filme de qualidade, que pode ser considerado um clássico instantâneo que irá ficará ainda mais popular com o tempo. 
Não sou jornalista, e como cineasta e critica de cinema meu objetivo aqui é trazer uma visão muito mais profunda sobre o filme, sem partir tanto de suas possibilidades mercadológicas ou de público alvo.

Já adianto que se você é amante de filmes de terror ou já assistiu a filmes deste ano como: Juntos, A Hora do Mal, Faça ela Voltar, Extermínio: 28 anos depois, ou se já teve contato com o famoso conto dos irmãos Grimm que se tornou o filme da Disney (o conto de fadas Cinderela). você não pode deixar passar esse filme. Ele fez por merecer todo seu hype do momento, pois vai te surpreender em qualidade e aspectos do cinema de terror nos quesitos Body Horror, Dark Fairytale e Terror Psicológico… e também na trama.

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É de surpreender que esse seja o primeiro filme longo da diretora e roteirista norueguesa Emilie Blichfeldt, assim como o elenco consistindo de atores “novos” e desconhecidos, liderado pela  Lea Myren (Elvira meia-irmã), Thea Sofie Loch (Cinderela), Flo Fagerli (outra irmã de Elvira), Ane Dahl Torp (mãe; Rebekka) e Isac Calmroth (príncipe Julian), todos conseguem entregar atuações impressionantes. 

Logo nos primeiros minutos, é possível notar as suas semelhanças com Cinderela, mas calma, isso não torna a história previsível ou menos digna de nota, na verdade, em A Meia Irmã Feia, nos deparamos com personagens com outros nomes, com construções mais detalhadas, explicando, aspectos que podem ter gerado dúvidas na mente do expectador de Cinderela da Disney, como por exemplo o que leva ao casamento de seu pai, o que leva a sua morte e as motivações da madrastra pela forma que a trata. 

Admito que estou acostumada com o fato de filmes de terror terem um vilão em destaque, e esse longa me surpreendeu ao não trazer um vilão definido, mas  sim personagens multifacetados. Onde até mesmo a personagem que de início poderíamos acreditar ser a mais juvenil, inocente e certinha, se comporta com malícia e disruptiva. Ao mesmo tempo que a grande "vilã" e protagonista do filme, na realidade se mostra com aspectos inocentes, inseguranças e a busca por uma realização pessoal, que pode ser vista como uma causa nobre.

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A realidade é que todos os personagens estão a todo momento tentando tirar vantagem um do outro, trazendo à tona o caráter mais vil e maligno do ser humano: o egoísmo, a inocência, a vaidade, a pureza, tudo isso levado ao extremo. Ao retratar os homens como machistas que objetificam as mulheres pela sua aparência, as fazendo ser desesperadas pela aprovação alheia, em busca do dinheiro que apenas um casamento entre uma donzela e um homem nobre pode proporcionar. 

Mas será essa causa suficiente para justificar uma "doença mental"? ou como diria a mentora e voz da razão da narrativa, que para surpresa de muitos, ou melhor, de ninguém, não é atendida em nenhum momento, até que seja tarde demais. Essa fala, que pode parecer a única sã do filme, é justificada, e ouso dizer, muito bem colocada na trama, aumentando ainda mais a agonia, angústia e aflição do filme.

A moral final? Definitivamente é um filme com uma direção feminina, com a maioria das personagens femininas tendo escolhas de vida duvidosas, mas não é um filme feminino voltado para o público feminino. Com uma classificação etária direcionada para maiores de 18 anos, a trama não traz nenhum receio em questionar não só as mulheres ou os homens, mas a sociedade na totalidade ao retratar cenas perturbadoras, gráficas e extremamente realistas de procedimentos cirúrgicos, cenas carnais e decisões que vão totalmente contra a natureza humana de sobrevivência. Todas essas decisões voltadas a atingir a beleza ideal e perfeita, ou como diria o Cirurgião "É necessário sofrer para ser bela".

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Enquanto o conto de fadas original buscava nos fazer acreditar que nunca devemos deixar de acreditar nos nossos sonhos, A Meia Irmã Feia, nos mostra que na grande realidade, nunca devemos deixar de amar a nos mesmos, com carinho, empatia, autoconfiança, pois a escolha contrária, pode trazer grandes consequências.

Na tarefa de levar essa moral ao público através de cada construção de cena e cada detalhe, devemos dar destaque ainda para direção de arte, como o figurino de época, por exemplo, contribui para a grande mensagem final da narrativa, com maneirismos específicos da alta sociedade do século XIX, como a forma de se portar, andar, falar, vestir e agir de maneira elegante. Onde a superioridade e erros singelos nessas regras de etiqueta, podem trazer grandes consequências.

Outro grande destaque para a arte, é a execução dos efeitos gráficos e visuais das cenas mais perturbadoras do filme, cirurgias sem anestesia, ações brutais, detalhes nítidos que causaram agonia nos estômagos mais fortes presentes na plateia.

Agonia construída com perfeição a partir do trabalho em conjunto da tríade artística dos diretores cinematográficos, de arte, foto e som. Um plano aberto de uma sala cirúrgica, um rosto horrorizado em primeiro plano, um grito estridente ao fundo, um som do que pode ser descrito facilmente como uma mutilação planejada e cirúrgica, um rosto sorrindo com o que isso pode proporcionar, com caráter doentio, um plano detalhe vívido do procedimento compõem a trama em seus momentos mais perturbadores.

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Composição tal evidenciada pelo Designer de Som, que faz um show a parte na trama, sem medo de inovar em suas composições, presentes em caráter lúdico em momentos singulares do filme, bem como momentos em que é complemente inexistente no silêncio construtor da tensão.

Neste ramo, é possível notar que a trilha sonora é composta apenas por músicas que “pertenceriam” ao momento retratado do filme, uma música clássica, mas com um leve teclado eletrônico, sintetizando ou dando um efeito moderno e peculiar ao filme, com instrumentos de corda, pianos, harpas, e às vezes até mesmo assobio, aumentando a referência e a sensação de irrealidade e surrealismo de um conto de fadas tradicional, evidenciando o contraste do filme de terror com seu predecessor, Cinderela, com seus traços de história encantada e lúdica.

O caráter lúdico aqui, porém, é rapidamente diferenciado na mente do expectador, que é forçado desde a primeira cena a compreender através principalmente da direção de fotografia e iluminação, que por mais que suas personagens possam sonhar com um príncipe encantado, compositor de poesias sobre o amor, que ele não chegará em um cavalo branco, pois esse afinal, não é um conto de fadas tradicional.

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A Iluminação faz questão de diferenciar sonhos de menina com uma iluminação irreal, com toques de vermelho e surrealismo, da realidade da sociedade corrupta, sombria e sem grandes contrastes cinematográficos.

Para finalizar, é importante ressaltar que se trata de um filme de um pouco mais de uma hora e meia de duração, com construção profunda dos personagens e contexto, seu ritmo é perfeito, com uma montagem que não se demora a apresentar os fatos mais importantes para o desenrolar da trama. Podemos aqui dizer com toda certeza, que o primeiro ato, ou parte inicial da jornada da heroína de contextualização da trama, não deve demorar mais de 10 minutos de narrativa.

São 105 minutos perturbadores, desconfortáveis, com sofrimentos prolongados, corriqueiros, e que surpreendentemente consegue ficar cada vez pior. Se você busca um filme de terror com aspecto dos subgêneros aqui mencionados, se já assistiu ao trailer ou até mesmo, se já ouviu algo a respeito do aspecto macabro do conto dos irmãos Grimm, A meia irmã feia, ainda tem muito a te surpreender.

E se você precisa de provas de qualidade, o filme foi destaque no Festival de Sundance e Berlin Internacional Film Festival 2025, foi vencedor do prêmio Bucheon International Fantastic Film Festival, levou mais de 500 mil pessoas aos cinemas do México, e hoje se mantém no top 25 filmes de terror do Letterbox (e não são os 25 desse ano mas o top 25 de todos os tempos!).

O filme estreia nos cinemas na próxima quinta-feira dia 23 de outubro de 2025, e pela primeira vez pela distribuidora em suas versões tanto legendada como dublada, e posso te garantir, vale a experiência da sala de cinema, sentir a reação do público, nos altos e baixos dessa montanha-russa de emoções.

@maresfilmes @darsidebooks @editorawish @alphafilmes



 
 
 

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