Como Pequena Sereia pode ser uma das melhores adaptações Live Action da Disney, mas com ressalvas
Carol Oliveira
29 de mai. de 2023
6 min de leitura
A mais nova adaptação da Disney para um Live Action chegou aos cinemas, o filme ja vem dando muito o que falar desde a divulgação da atriz escalada para o filme como uma atriz negra. Eu, como boa fã da Disney, fui conferir o longa em primeira mão na telona, e apesar de gostar muito do filme, a muito que poderia ser diferente.
Tendo em mente que a grande maioria do público presente em uma sala de cinema lotada é de fãs da animação da Pequena Sereia de 1989, assim, as expectativas já vão ao alto, e as polêmicas em torno da cor da pele da atriz geraram grandes polêmicas.
Porém, Halle Bailey com certeza é o grande destaque do filme, não apenas por interpretar a protagonista, mas por dar vida a uma personagem de animação de uma forma tão magnífica, desde as músicas, até as cenas mais dramáticas. Essa performance peca apenas frente a uma clara escolha da direção quando Ariel se encontra no castelo de Eric, sem voz, a personagem perde grande parte de sua expressão, sendo incapaz de balançar a cabeça em sim ou não para uma resposta, capacidade que aos poucos retorna e se mostra uma tentativas de mostrar o medo, timidez e novidade daquele mundo para a personagem. É inegável que tal atitude funciona, mas em um primeiro momento, pode soar estranho aos olhos mais atentos.
Quanto a etnia e raça da atriz, em nada influência para dar vida a Ariel, ela claramente mereceu o papel e essa chance como personagem da Disney, o que é um marco extremamente importante para a sociedade e para as crianças atuais. Desta forma, a negritude da personagem pode e é facilmente esquecida.
Nos atendo ainda a construção dos personagens, todos são mais trabalhados, novos personagens ganham vida e personalidade, porém, esse fator se perde no processo. Enquanto alguns deles, como o mordomo Grimsby, que ganha mais personalidade ao longo do filme, de forma que o conhecemos verdadeiramente e passamos a nos apaixonar mais com ele. Enquanto outros são extremamente superficiais e outros ainda como a grande e importante vilã Úrsula, tem sua nova perspectiva de história pregressa dada como tão importante para a trama, que nos é apresentada em um monólogo da personagem que fica completamente perdido e desnecessário, evidenciando um erro de roteiro, principalmente quando estas mesmas informações são trazidas de forma mais sutil e orgânica em um diálogo importantíssimo com a protagonista mais para o meio do filme... nós claramente poderíamos ter aguardado por essa informação.
Ainda no quesito do roteiro, um novo desafio e inserido no filme, ao analisarmos este, é claro que temos que ter em mente que se trata de uma adaptação do filme de animação original.
Alerta de spoiler, pule 3 parágrafos.
O novo desafio inserido é o fato de Úrsula ter acrescentado um feitiço na transformação de Ariel, de forma que a protagonista não se lembra do que tem que fazer para poder reconquistar sua voz e se manter livre da vilã. Claramente tal atitude é desnecessária já que a animação funciona perfeitamente bem sem ela, mas ao mesmo tempo, traz mais importância aos coadjuvantes como Sebastião, Linguado e Sabichão, que devem ajudar Ariel sem que ela perceba, e acrescenta cenas ao filme que nos explicam melhor como o feitiço funciona.
As adaptações do Live Action não param por ai, com apresentação de um Sabichão ainda mais tolo, um Sebastião quase protagonista dada sua importância e de longe o personagem mais engraçado da trama, que inclusive canta um Rap desnecessário dada a ansiedade pela notícia na cena, mas que serve como alivio cômico e respiro na história. Além de mudanças em locações, como de barcos para terra firme, de casamento para apresentação a corte, e mais tempo de tela para desenvolvimento da intimidade entre o casal principal.
Um dos grandes medos da adaptação porém, sempre foi a questão dos animais que deveriam parecer animais reais. Dado este fato, varias mudanças na história acabaram acontecendo, a principal delas, a menor importância do personagem linguado, que por ser um peixe com menos expressões faciais e corporais, ainda aparece, mas muito menos do que na animação original, e quando o faz, em grande parte de suas cenas, não todas, aparece com poucos planos, ocultado por sombras, ou sua voz existe mas apenas o vemos de costas e a reação do personagem que o ouve.
A solução fotográfica para a falta de expressão do personagem é louvável e claramente funciona, mas e inegável a falta que o personagem faz, já que era um personagem tão presente e carismático na animação original.
Abordando ainda a Direção de Fotografia e já introduzindo a Direção de arte do filme, são duas áreas que merecem destaque, onde a foto nos traz enquadramentos diferenciados, com reflexos, apesar de muitas vezes solucionar as cenas de forma a evitar efeitos especiais a mais.
A iluminação por sua vez, é belíssima, nos maravilhamos com o mundo submarino e sua dualidade de cores, ora obscura e repleta de sombras do submundo ou da noite, sombras que escondem nosso amado linguado. E ora com cores vibrantes e fluorescentes, que para os espectadores mais atentos, parece fazer referência direta a bioluminescência do mundo de pandora, do filme Avatar de James Cameron, com suas cores azuis, verdes e roxas evidenciadas, aspecto por sua vez que já tem muita relação com a Direção de arte.
A Direção de arte e figurino foram extremamente bem executados, os vestidos e trajes humanos se destacam, principalmente os femininos que são tão diferentes da animação, vemos aqui uma maior busca por um realismo histórico, mas estaria mentindo se dissesse que não senti falta do vestido rosa e do vestido azul brilhante de Ariel.
Já para a caracterização do mundo marinho, as caldas de sereia são convincentes, seguem a natureza da ambientação cenográfica do subaquático, seus tops por outro lado deixam a desejar, não parecem ter nascido com ela, mas nem mesmo serem feitos de itens encontrados no ambiente, como no caso da animação que são feitos de conchas.
Outro figurino que incomoda ligeiramente e logo depois é esquecido na história, é a capa do rei Tritão feita de pequenos peixes escuros, dando uma obscuridade ao rei que não combina com o personagem.
Por último mas não menos importante, precisamos falar sobre o som, tanto do designer de som como das trilhas sonoras e músicas novas. O designer de som é belíssimo, o cuidado da produção com a reverberação sonora em baixos d'água é louvável, a busca pelas alterações, a importância do silêncio fazem toda diferença para trazer mais realismo a trama.
As músicas por outro lado, apesar de grande parte das músicas importantes estarem presentes, a musica Under the Sea, fica com uma conclusão confusa para os que não viram a animação devido a ausência de Linguado no final, nos deparamos com uma Ariel animada com a trilha que até mesmo canta junto dos demais animais, mas que repentinamente some no final da história sem um destino evidenciado logo em seguida, como acontece na animação. Além do fato de que nessa música, notamos as adaptações profundas feitas nos personagens, de forma que onde antes tínhamos vários tipos de peixes cantando e dançando, agora eles dão lugar a animais considerados mais expressivos e que de certa forma podem se assemelhar mais as características humanas, como oriundos de membros que se parecem com braços e pernas e que consequentemente lhes dão mais mobilidade e expressão do que no caso dos peixes.
A música de Eric, apesar de ser uma ótima iniciativa da produção, trazer uma música para o personagem, tem uma realização sofrível, com uma letra sem ritmo e um conjunto musical sem marcação, de forma que ao contrário de todas as outras músicas do filme que conhecendo ou não, podemos nos ver dançando e cantando depois, esta acaba não tendo nenhuma marca, nada que nos faça querer ouvi-la de novo ou um ritmo que nos faça mantê-la na mente posteriormente.
Desta forma, A Pequena Sereia Live Action cumpre o que promete como adaptação da animação original, é divertida, engraçada e emocionante nos momentos certos, com ajustes da história que são aceitáveis.
Porém, não é o filme ou a adaptação perfeita, seja por falta de criatividade ou recursos para resolver os problemas que surgiram, o filme claramente não merece a classificação mais alta.
Se você assim como eu é super fã da Disney e amante de A Pequena Sereia, sugiro que assista, ciente dos problemas do longa, mas de mente aberta para uma adaptação digna de nota e muito melhor do que outras que vemos por aí.
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