Além do Tempo: Drama Holandês no Festival Filmelier de Cinema
- Carol Oliveira
- 16 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de abr. de 2023
Cabine por: Atomica Lab
Distribuição: A2 Filmes
Estreia no Festival Filmelier de Cinema dia 19 de Abril de 2023
Filme ganhador do prêmio de melhor filme em Milão.

"Além do Tempo" é um filme holandês de 2022 dirigido por Theu Boermans, que até então havia feito seu último filme em 2006. O longa-metragem trata da adaptação de uma história real, com aspectos de romance, mas se pautando fortemente no gênero de drama.
O filme conta a história de Lucas e Johanna, um casal apaixonado que sai em uma viagem de barco, mas no meio da viagem, um acidente acontece que muda suas vidas para sempre. O desenrolar dos acontecimentos os coloca longe um do outro por mais de 40 anos, até que, por obra do destino, voltam a se encontrar.

Ao ler uma história e um enredo como esse, é fácil crer que se trata de um filme de romance, de amores perdidos e reconquistados, de separações equivocadas e um futuro feliz para sempre no final. No entanto, "Além do Tempo" é muito mais do que isso. O longa-metragem, apesar de ilustrar fortemente o afeto e o amor entre os dois protagonistas, não se baseia apenas nisso. Na verdade, mostra muito mais como alguns traumas podem separar pessoas, mesmo que elas ainda se amem, e gerar marcas que duram para sempre.
Se você espera encontrar um filme leve, mas com muita emoção, de forma que possa terminar o filme sorrindo e alegre com o desfecho, essa história não é para você. O filme, na verdade, se pauta fortemente em sua linguagem cinematográfica para expressar a dor, angústia e desespero dos personagens, que é feita de forma tão magnífica que chega a arrepiar e tirar lágrimas dos espectadores mais sensíveis ao tema do amor, da paternidade e da perda.

Ao se deparar com o início do longa-metragem, notamos que não se trata de uma história totalmente linear. Na verdade, a trama se passa em dois períodos de tempo diferentes, separados por 40 anos e expressos na história por meio de alguns flashbacks, mas essencialmente dividindo toda a duração do longa em dois. A primeira metade ocorre na juventude do casal, com alguns flashforwards para o futuro, deixando o público intrigado do que haverá acontecido e curioso por compreender melhor a jornada dos protagonistas. Já a segunda metade apenas se passa no tempo atual dos personagens, 40 anos depois, ligados por seu passado, que é representado em alguns momentos por filmes de arquivo da família e não mais por lapsos temporais da história.
Dessa forma, é fácil dividir o filme em duas partes, de forma que a cada transição, é necessário notar as mudanças e haver uma reapresentação dos personagens para situar o público da nova realidade retratada. Isso é feito pelo roteiro e pela montagem de forma magistral, sutil e naturalista.

Quanto à linguagem, é evidente notar a influência da música para gerar emoções intensas no público e para que possamos perceber a profundidade das emoções de Lucas e Johanna diante das dificuldades em suas vidas. Além disso, é perceptível que o início da trama apresenta cores de pouco contraste, poucas sombras e uma ambientação jovial e alegre, apesar de não estar cercada por cores vibrantes.
Conforme o tempo passa e a tragédia consome os personagens, as cores gradualmente ficam mais fortes, mas com tons terrosos e nada alegres, sendo inseridos tons mais maduros, mais sombras e mais escuridão, sempre seguindo a mesma paleta de cores variada que é brilhantemente manipulada pela direção de fotografia e direção de arte, composta por marrons, pretos, azuis, vermelhos e amarelos, com iluminação voltada para luzes amareladas e quentes.

Quanto à produção do filme, apesar de aparentar ter um alto orçamento e muita qualidade e precisão cinematográfica, ele é simples em termos de uso de atores e locações. São utilizadas locações que se repetem, muitos atores coadjuvantes ou figurantes que não têm nenhuma ou quase nenhuma fala e locações que são adaptadas às novas realidades narrativas, evidenciando uma facilidade em cortar gastos e valorizar mais a história do que as grandes e majestosas produções.
No geral, o filme tem qualidade inegável, mas pode não agradar a todos os gostos. Assim como muitos filmes atualmente, trata de temas pesados, e mesmo pessoas que não vivem a mesma realidade daquela família conseguem sentir profundamente a dor e sair marcados pela trajetória do longa.

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